O vento é forte, o céu é azul. Às três horas da tarde o céu
já não é tão azul, o vento já não é tão forte, sinto calor e tenho medo do
escuro. As cinco, o céu é rosado com um tom amarelado, as nuvens se misturam de
uma forma linear, ah se eu pudesse pintar. Pintaria o céu, desenharia as nuvens
e... Não seria a mesma coisa, prefiro olhar para o céu, mas por quanto tempo
poderei olhar o céu?
Já se passaram 10
anos e dois meses... Permaneço aqui olhando o céu, quando digo para minha mãe
“mãe o céu hoje está diferente de ontem!”, ela me responde: “Ele é o mesmo céu
filha, não muda”. Há dias que chove e a
grama fica molhada, essa infelizmente não posso toca, a grama verde cintilante
que bilha com as gotas que caíram do céu, chuva como eu queria te sentir,
sentir tuas gostas derramarem sobre mim, girar, girar, girar, ficar tonta e na
grama rolar... Mas não posso, estou presa aqui.
Agora são 11 anos e
dez meses, meu decimo segundo aniversário já está chegando, será que vou poder
realizar meu sonho? Aquele de ir à sorveteria de seu Zé e saborear o melhor
sorvete de flocos do bairro, nesse calor é tudo que eu mais quero, mas os médicos dizem que não posso tomar sorvete.
Hoje... 12 de
dezembro é o meu aniversário, estou muito feliz... Conseguir levantar da cama,
conseguir mexer meus braços, agora eu consigo pular, correr, posso gritar por
todo o hospital que estou bem, que finalmente vou à sorveteria de seu Zé. Os
médicos me olham assustados e me param no corredor perguntando: “Maria
como...?” eu não entendo e continuou correndo. Vejo meus pais na porta do
hospital com a boneca que tanto perdi quando tinha nove anos de idade, ao
abraçar minha mãe percebo que ela é pequena e que meu pai também diminuiu,
como? Então paro e olho para a porta do hospital que refleti minha aparência,
pareço ter 30 anos, mas como? Até ontem eu tinha 10.
De repente sinto uma
tontura tudo escurece, caiu no chão. Quando acordo, percebo que estou na cama
do hospital, abaixo um pouco a cabeça e tento olhar para minhas mãos, faço com
que elas venham até mim, mas elas não vêm. Olho para o lado direito minha mãe e
meu pai estão sentados em duas cadeiras de plástico, meu pai abraçado a minha
mãe, os dois dormem tranquilamente, observo o calendário 12 de dezembro, meu
aniversário. Tudo foi um sonho, nada foi real, eu ainda estou na cama do
hospital.
-Luana Alcântara